terça-feira, 1 de setembro de 2009

Uma garrafa á deriva no oceano

23 horas, apartamento (casa será sempre o nº 6, Rua do Lugar)

Acordo no meu mundo, pleno de incertezas e de mal-entendidos, um mundo que deixou de ser o MEU mundo, com apenas uma certeza - Tenho de sobreviver.
Parte de mim morre enquanto oiço Chopin no piano, que em cada passagem de "la Polonaise" me recorda porque acordei, em cada som que ele consegue puxar daquele instrumento divino ele me consegue provar que afinal, eu estou vivo, e que sempre vou conseguir sobreviver, mesmo que pareça que cheguei ao limiar das minhas forças...
Posso ser uma pessoa grande, com força anormal, posso ser uma alma diferente, que pensa e sabe amar, mas que no seu dia-a-dia parece apenas insensível, frio, distante até, mas que ao escrever, revela aquilo que verdadeiramente é...
Nunca vou compreender quem sou, nem o que faço, muito menos o que quero parecer ser... Apenas sei que acordei, o meu mundo não existe, existe sim um vazio, algo que insiste em dar provas que eu não sei quem sou, onde estou, e pior que isso tudo, que me prova incansávelmente que eu não sei o que fazer...

Pensei ao longo de todo o dia, em milhares de textos escritos em português arcaico que tive o prazer de desfolhar ao longo da minha vida. Penso na "Menina & Moça ou Livro das Saudades", de Bernardim Ribeiro, que foi um dos livros mais marcantes que jamais li, penso n' "A Ilustre Casa de Ramirez", que me fez lembrar o porquê de eu compreender a causa monárquica, de ser saudosista do tempo em que a minha família era respeitada por ser exactamente isso, uma família.... Pensei em muitas coisas, na esperança vã de conseguir desviar o meu pensamento do que se passava em redor de mim... Mas, mais uma vez, é impossível...

Escrevo estas linhas, lágrimas que me correm incansávelmente pela face (afinal ainda choro... uma surpresa agradável) recordam-me que os problemas e as angústias estarão sempre lá...

(Acabei de perceber o porquê de "La Polonaise" se chamar assim... Ela apenas reflecte o desejo de toda uma nação em se afirmar como outrora, em que era orgulhosa, um bastião de pureza no seio de toda a corrupção e maldade que habitavam a Europa... Afinal, ainda existe esse sentimento nessa gente, de voltar a mostrar que consegue, que está unida para o que der e vier...)

Escrevo estas linhas, após ter escrito outras mais, diria mesmo que o que escrevi antes seria um capítulo de todo um diário que não mantive, um registo de acontecimentos da minha vida, que apenas eu, e quem os viveu comigo, poderá dizer "eu sei o que aconteceu naquela ocasião". Arranquei um capítulo a ferros dessa minha memória, na esperança de que uma vez lançado ao mar, para sempre fosse levado da minha existência, que me desse de novo uma razão para não pensar no passado, mas sim encarar o futuro de frente...

Mas a mãe-natureza é tramada, pois como os pescadores tão bem dizem, o que ao mar não pertence, aos homens retorna... A garrafa que flutuou por breves instantes, acabou mesmo por voltar às minhas mãos...

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